PAISAGEM E ESPAÇO
Fotos: "A paisagem no ontem, a paisagem no hoje"- Antiga estação ferroviária, atualmente Museu do Café- Ibiporã PR |
Todos os espaços são
geográficos porque determinados pelo movimento da sociedade, da produção. Mas
tanto a paisagem como espaço, resultam de movimentos superficiais e de fundo da
sociedade, uma realidade de funcionamento unitário, um mosaico de relações, de
formas, funções e sentidos.
PAISAGEM,
O QUE É
Tudo o que nós vemos, o
que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do
visível, aquilo que a vista abarca. É formada não apenas de volumes, mas também
de cores, movimentos, odores, sons, etc.
PERCEPÇÃO
E CONHECIMENTO
Nossa visão depende da
localização em que se está, se no chão, em um andar baixo ou alto de um
edifício, num miradouro estratégico, num avião... A paisagem toma escalas
diferentes e assoma diversamente aos nossos olhos, segundo o lugar onde
estejamos, ampliando-se quanto mais se sobe em altura, porque desse modo
desaparecem ou atenuam-se os obstáculos à visão e o horizonte vislumbrando não
se rompe.
A dimensão da paisagem
é a dimensão da percepção, o que chega aos sentidos. Por isso o aparelho
cognitivo tem importância crucial nessa apreensão, pelo fato de que toda nossa
educação, formal ou informal, é feita de forma seletiva – pessoas diferentes
apresentam diversas versões do mesmo fato. Por exemplo, coisas que um arquiteto
e um artista veem, outros não podem ver ou fazem de maneira distinta. Isso
também para profissionais com diferente formação e para o homem comum.
Apercepção é sempre um
processo seletivo de apreensão. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê
de forma diferente; desse modo, a visão- pelo homem- das coisas materiais é
sempre deformada.
OS
OBJETOS CULTURAIS
À medida em que o homem
se defronta com a natureza, há entre os dois uma relação cultural, que é também
política, técnica etc. É a marca do homem sobre a natureza, chamada de
socialização, por Marx.
Dessa maneira, com a
produção humana há a produção do espaço. A produção do espaço é resultado da
ação dos homens agindo sobre o próprio espaço por meio dos objetos, naturais e
artificiais. Cada tipo de paisagem é a reprodução de níveis diferentes de foras
produtivas, materiais e imateriais, pois, o conhecimento também faz parte do
rol das forças produtivas.
PAISAGEM
NATURAL, PAISAGEM ARTIFICIAL
A paisagem artificial é
a paisagem transformada pelo homem; já, grosseiramente, podemos dizer que a
paisagem natural é aquela que ainda não foi mudada pelo esforço humano. Se no
passado havia paisagem natural, hoje, essa modalidade de paisagem praticamente
já não existe. Se um lugar não é fisicamente tocado pela força do homem, ele é,
todavia, objeto de preocupações e de intensões econômicas ou políticas. Tudo
hoje situa no campo de interesse da história, sendo, desse modo, social.
A paisagem é um
conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é formada por frações de
ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro
critério. A paisagem é sempre heterogênea. Quanto mais complexa a vida social,
tanto mais nos distanciamos de um mundo natural e nos endereçamos a um mundo
artificial.
Há uma relação entre os
instrumentos de trabalho (objetos dos mais diversos tamanhos), que o homem cria
para poder produzir) e a paisagem. Estradas, edifícios, pontes, portos,
depósitos etc. são acréscimos à natureza, sem os quais a produção é impossível.
A cidade é o melhor exemplo dessas adições ao natural.
PAISAGEM
E A MUDANÇAS PERMANENTE
Em cada momento
histórico, os modos de fazer são diferentes, o trabalho humano vai se tornando
cada vez mais complexo, exigindo mudanças correspondentes às inovações. Por
meio das novas técnicas, vemos a substituição de uma forma de trabalho por
outra, de uma configuração territorial, por outra.
A paisagem não é dada
para todo o sempre, é objeto de mudança. É um resultado de adições e subtrações
sucessivas. É uma espécie de marca da história do trabalho, das técnicas. Por
isso, ela própria é parcialmente trabalho morto, porque formada por elementos
naturais e artificiais.
Os objetos são
passíveis, de uma datação, têm idades. Pela datação dos objetos de uma
paisagem, deveríamos poder reconhecer a sua idade. A paisagem tem o movimento
que pode ser mais ou menos rápido. As formas não nascem apenas das
possibilidades técnicas de uma época; dependem também das condições econômicas,
políticas, culturais e etc. A técnica tem um papel importante, mas não tem
existência história fora das relações sociais. A paisagem deve ser pensada
paralelamente às condições políticas, econômicas e também culturais.
Como
já dito, a paisagem está sujeita a mudanças constantes e contínuas, essas
mudanças são chamadas de mudanças/alterações
estruturais e funcionais.
Ex.
Mudança funcional: Ao passarmos por
uma avenida, rua, praça, bairro, esses locais funcionam de modo diferente de
acordo com o horário do dia, do dia da semana, do feriado e etc.. Nesta mudança
estrutural repare que a sociedade não mudou, permanece a mesma, mas se dá de
acordo com ritmos distintos, segundo os lugares cada ritmo correspondendo a uma
aparência, uma forma de parecer.
Ex. Mudança estrutural: este
tipo de mudanças se dá pela alteração das formas. Quando se constroem prédios
de quarentena, em vinte ou trinta andares, quando locais antigos são
desativados e/ou demolidos, quando lugares de formas antigas passam por uma
reforma e o local passa a ter outro tipo de função, ou seja, alterações de
velhas formas para adequação às novas funções. Há uma relação entre as formas
da paisagem e o período econômico e político.
A
paisagem é um palimpsesto, um mosaico, mas que tem funcionamento unitário. Pode
conter formas viúvas e formas virgens. As primeiras estão à espera de uma
revitalização, reutilização, que pode até acontecer; as segundas são adrede
criadas para novas funções, para receber inovações.
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Texto via: SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. 6ªed. São Paulo: EDUSP, 2012. Digitação: Fernanda E. Mattos. É permitido o compartilhamento desta publicação e até mesmo a edição da mesma. Sem fins lucrativos e cite a fonte. Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
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